Mulheres no teatro: a tradução teatral como pesquisa e prática

Autores

  • Alinne Fernandes Universidade Federal de Santa Catarina

Resumo

Nesta comunicação, apresentarei estudos de caso oriundos de meu projeto de pesquisa em andamento, intitulado “Criando espaço para mulheres no palco brasileiro”. As reflexões teóricas desse projeto são amparadas na prática teatral, como parte das pesquisas realizadas pelo Núcleo de Estudos Irlandeses da UFSC. O projeto objetiva contribuir para o estudo dramatúrgico e a disseminação de peças teatrais irlandesas e norte-irlandesas de autoria feminina no Brasil. O que o motiva é a relativa ausência e vozes femininas contemporâneas na Irlanda e Irlanda do Norte, como as de Patricia Burke Brogan, Christina Reid, Geraldine Aron, Anne Devlin e Marina Carr, assim como o desejo de promover encontros interculturais pela encenação. Essa ausência é notada também no teatro brasileiro, como observa Lúcia Romano (2009). Como aporte teórico, refletirei sobre a tradução como um exercício de “hospitalidade linguística”, termo cunhado pelo filósofo francês Paul Ricoeur (2006). Para Ricoeur, a hospitalidade linguística refere-se à felicidade alcançada no ato da tradução. O filósofo define hospitalidade linguística como quando “o prazer de residir na língua do outro é retribuído pelo prazer de receber a palavra estrangeira em seu lar, na sua receptiva casa” (RICOEUR 2006: 10). No entanto, para alcançar tal felicidade, necessariamente deve-se passar por um período de luto que resulta das múltiplas perdas que são parte fundamental de qualquer processo tradutório, como, por exemplo, as tentativas vãs de encontrar referências culturais e históricas equivalentes, quando, na verdade, a riqueza e a beleza da tradução residem no fato de que a tradução -- teatral, neste caso -- permite que o público viaje e seja levado a um entre-lugar e também permite derrubar os muros nacionais da exclusão. É consciente das perdas que o “tradutor-como-dramaturgista”, para me utilizar do termo de Patrice Pavis (1992, tradução minha), torna-se então capaz de reconhecer os muitos ganhos da tradução trazidos pelas intersecções e intervenções inevitáveis e inerentes à tradução teatral, presentes na materialidade do texto e da encenação. Assim sendo, pretendo investigar os espaços interdisciplinares e transformadores do teatro e da tradução por meio da análise de estudos de caso compostos por minhas traduções e produções teatrais realizadas na UFSC e em outros contextos profissionais. Nesta comunicação em particular, abordarei as traduções e produções de “By the Bog of Cats…” de Marina Carr (1998), “No Escape” de Mary Raftery (2010) e “Eclipsed” de Patricia Burke Brogan (1992). “By the Bog of Cats…” de Carr, foi traduzida como “No Pântano dos Gatos…” e recebeu uma leitura encenada realizada pelos estudantes da Oficina Permanente de Teatro no Teatro da UFSC em 2011, na qual atuei como tradutora e dramaturgista (no prelo). A peça do gênero “docu-drama” “No Escape” foi traduzida como “Sem Saída” (tradução ainda não publicada) e recebeu uma leitura dramática em 2015, realizada no Teatro Eva Herz, em São Paulo, como parte do IV Ciclo de Leituras da Cia Ludens. Já “Eclipsed” foi traduzida como “Eclipse” (tradução tampouco publicada) e recebeu três leituras encenadas entre 2016 e 2017, uma delas como parte do congresso internacional Irish Theatrical Diaspora, no Teatro da UFSC. Essa última foi traduzida, produzida e dirigida por mim e teve como participação um grupo de atrizes em formação do curso de Artes Cênicas da UFSC.

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Publicado

2018-03-01

Edição

Seção

Tradução e literaturas não-canônicas