Narrar o sangue, recontar Eva: teologia do corpo e menstruação na literatura infantojuvenil
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.1887-8214.2025v39n1.74769Resumo
Este artigo tem como objetivo investigar de que maneira a chamada “maldição de Eva” é representada em livros e quadrinhos voltados ao público infantojuvenil, publicados no Brasil entre 2016 e 2021. Compõem o corpus de análise cinco obras que articulam narrativas sobre a menstruação, o corpo feminino e o mito da Criação: O Tesouro de Lilith: uma história sobre a sexualidade, o prazer e o ciclo menstrual (Casanovas, 2016), A Origem do Mundo: uma história cultural da vagina ou a vulva versus o patriarcado (Strömquist, 2018), A Mamãe Sangra (Ramos, 2020), Margarida e o Jardim Florido (Victor, 2020) e Francis (Cioffi, 2021). As quatro primeiras obras ressignificam a figura de Eva por meio de novas narrativas sobre o prazer, o amor, a autonomia sexual e o autocuidado, propondo uma pedagogia do corpo centrada na dignidade e na reconciliação com os ciclos naturais. Em contraponto, Francis retoma o arquétipo da mulher seduzida e expulsa, inscrita na lógica da culpa e da expiação cristã, revelando a persistência de imaginários punitivos sobre o feminino. Concluímos que essas produções, ao recontarem a história de Eva sob múltiplas perspectivas, contribuem para tensionar e transformar os discursos religiosos, pedagógicos e culturais sobre o corpo menstruante, possibilitando a emergência de imaginários mais plurais, poéticos e emancipatórios na literatura infantojuvenil contemporânea.

