Vista d'olhos sobre a relação entre texto e religião

Resumo

O presente artigo analisa o papel da escrita na formação das religiões e, por consequência, no desenvolvimento da cultura ocidental. A partir da tese do filósofo francês Régis Debray, destaca-se que o monoteísmo judaico só se consolidou por meio da escrita, especialmente após o exílio babilônico, quando a Torá se tornou símbolo central da identidade do povo hebreu. No que diz respeito ao cristianismo, a autoridade textual se intensifica na Idade Média, culminando na Reforma Protestante, que, embora tenha defendido o “livre exame” das Escrituras, instituiu novos mecanismos de controle interpretativo, como, por exemplo, os catecismos e a pregação. David Olson, outro teórico a quem recorremos, assinala que a leitura do texto bíblico desenvolvida após a Reforma influenciou não apenas a teologia protestante, como também o surgimento da ciência moderna, ao propor um método analítico de leitura semelhante ao que seria usado para “ler” a natureza. O artigo converge para uma reflexão sobre o fundamentalismo religioso contemporâneo, particularmente no Brasil. Os autores concluem com a afirmação de que o modo como se lê e se interpreta os textos sagrados é crucial para compreender fenômenos sociais e políticos atuais, com implicações profundas para a democracia e a liberdade.