Pode o indígena falar? Tradução como empoderamento de línguas ameaçadas
DOI:
https://doi.org/10.5281/zenodo.15810063Palavras-chave:
Tradução, Identidade indígena, Representatividade indígena, DecolonialismoResumo
Neste artigo apresentamos algumas reflexões sobre o conhecimento construído durante uma pesquisa sobre tecnologias de tradução e uma língua indígena ameaçada de extinção na região do Baixo Amazonas. Ler, discutir e traduzir diversos textos do português para o Sateré-Mawé levou a equipe tradutora a pensar e remoer aspectos de suas próprias realidade e condição sociocultural, num movimento de conscientização sobre a língua, a identidade e a representatividade indígenas. Com isso, percebeu-se que a voz indígena ainda não é de fato ouvida na maioria das instâncias de poder ocidentais. Na esteira da concepção de Gayatri Spivak, a pessoa indígena é o subalterno do ocidente: não tem voz autônoma e sempre há algum intermediador, subalterno inclusive, falando em seu nome ou, no máximo, como é o caso deste texto, criando um espaço para o discurso indígena. Isso é insuficiente para que a identidade e a representatividade indígenas se fortaleçam e percam os estigmas impostos por não-indígenas e suas visões enviesadas. Nesse sentido, a tradução surge como possibilidade potencializadora para que indígenas e seus conhecimentos sejam acessados por mais pessoas e mais rapidamente, permitindo ainda que os povos originários tenham autonomia sobre a própria voz e poder de escolha.
